quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal gordo para os politicos

  
Não contentes com o R$16.500 para defender os direitos da população que muitas vezes sobrevive de um salário mínimo,  os dePUTAdos aprovaram um aumento de mais de 60% e vão passar a ganhar R$27.600 por mês.

O pior de tudo e ter que ver essa justificativa do deputado Abelardo Camarim do PSB


domingo, 7 de novembro de 2010

Dilma é eleita no 3º Turno

É dessa forma que funciona a democracia aqui no Brasil, há 3 turnos para eleger um presidente, no 2º e no 3º quem vota é a população, e o 1º??? Bom, o que vi foi que o primeiro turno é eleito pela mídia. Por exemplo, eram 9 candidatos concorrendo a presidencia mas a maioria das pessoas debatiam somente três deles - Dilma, Serra e Marina - deixando os seis restantes à margem da dispulta.


Há quem diga que esses três candidatos destacados, foram os que apresentaram melhores propostas e logo agradou o povo e por isso ganharam destaque nos jornais, TV e etc. Eu penso diferente, os nomes Dilma e Serra eram colocados nas nossas cabeças a mais de um ano, mais recente apareceu a Marina, isso foi acostumando a população a discutir sobre esses candidatos muito antes dos outros.

Quem assistiu o debate presidencial na Band viu as palhaçadas dos seus "sorteios prévio" que acabou centralizando a discusão entre PT e PSDB e deixando o Psol com Plínio (que era um candidato desconhecido por muitos, incluindo eu) sem responder uma questão se quer.

Então, o que aconteceu foi que os jornais, revistas e TV  elegeram Dilma, Serra e Marina para o segundo turno e desses três a população escolheu a Dilma como sua presidenta.

A internet com os blogs, twitters e rede sociais, ainda não conseguiram derrubar esse controle de informação por parte das grandes mídias, e eu espero mesmo que isso mude para as próximas eleições. Hoje mesmo tem uma cambada de gente falando mal do Kassab, mas chega o periodo de eleição e seu marketing consegue facilmente mudar essa opinião quase pública.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Operário em construção - Vinícius de Moares

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
.
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construcão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
.
Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
.
Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução
.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.
.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
.
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
.
Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
.
- Loucura! - gritou o patrão
Nao vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
O operário em construção

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Incomum na minha rotina

Ontem aconteceu um fato bem engraçado comigo, talves não seja tanto pra vocês.
Eu estava pra variar perdido, tinha que encontrar uma amiga num determinado lugar as 19:00, já tinha passado desse horário e andado pra caramba até que resolvi pedir uma ajuda, pra primeira pessoa que aparecesse. Encontrei num ponto de ônibus uma mãe com sua filha, a garota mais ou menos da minha idade, perguntei para elas se naquele ponto passava algum ônibus para o meu destino, a mãe tentava me esplicar, dizendo que eu teria que andar muito (muito mesmo!). Eu não entendia direito o caminho que ela me passava até que um cara que também estava no ponto se intrometeu, falou que ele iria passar perto e que podiamos pegar um determinado ônibus, a garota ria da minha confusão e a mãe ignorou o rapaz e pediu para que fossemos andando, pois seu ônibus estava demorando e sua casa era caminho do meu destino. Ela queria ir andando mesmo de eu aparecer, mas tinha medo de ser assaltada. Olhou pra mim, falou que se sentia segura se eu acompanha-se elas e me guiaria ao mesmo tempo, vi as duas com umas sacolas de compras nas mãos e tinha um jeito de gente simples, então fui.
Não demorou muito e aquele rapaz do ponto de ônibus aparece do nosso lado caminhando juntamente. Olhei disconfiado para ele e perguntei se estava nos acompanhando, ele também deu a desculpa da demora do ônibus. Então fomos os quatros andando e com exceção da mãe e filha era todos estranhos um para o outro, mas nem parecia viu... Conversamos sobre o bairro, costumes, eu não vou escrever todos os assuntos aqui porque é mais chato que esse texto. Mas realmente não pareciamos mais estranhos e foi aproximadamente 40 minutos de caminhada, no fim foi cada um pro seu canto, nem perguntamos os nomes uns dos outros e pra falar a verdade eu nem sei se as mulheres eram mãe e filha, mas achei essa história engraçada, e me fez pensar em algumas coisas, porque devido a grande violência da nossa cidade agente sempre olha meio disconfiado para o outro (tipo aquele comercial do Bis, "desconfie de todos"), e também devido ao grande números de pessoas desconhecidas ao nosso redor, agente esquece um pouco a parte humana das pessoas que nos rodeiam todos os dias.
Mas enfim, foi apenas um fato comum, publiquei porque foi algo fora da minha rotina e também porque eu não ando postando nada aqui e caramba! pensei que isso seria uma postagem de três linhas e deu tudo isso =O .

terça-feira, 29 de junho de 2010

Anti-Trabalho

Uma das coisas que mais estou gostando agora é eu ser dono do meu tempo. Mas dizendo isso muitos vão pensar que fico de "bobeira", "relaxando" ... dizendo francamente , um vagabundo. Isso porque o ócio não é bem visto hoje, agente tem sempre que esta produzindo, sedendo horas e horas das nossas vidas ao trabalho para trazer o "progresso".  Ok...ok.. eu concordo com isso, devemos sim trabalhar para trazer o desenvolvimento de uma nação, só que é isso que acontece hoje? Não..

Ja faz um tempo que é a marca A disputando com a marca B, e quando dizem para nós que o mundo ta progredindo, não é o que eu vejo, pois na verdade é uma empresa que está ganhando da outra.


A prova disso é só agente ver o que acontece hoje. Gente passando fome, a natureza sendo destruida, a pobreza ainda é significativa, muitos tem que pagar aluguel pra ter um lar, e mais uma porrada de coisas que muitos ja sabem . Isso, na minha opinião e de muita gente que conheço não é progresso.

Então eu só vou ter orgulho de trabalhar, quando eu ver que meu serviço ajuda os seres humanos, acredito quea força de trabalho deve servir para isso, e não para brincadeirinhas de empresas que nos usam como peça de tabuleiros (quanto maior a graduação melhor a peça, ou seja, agente estuda pra ser uma peça melhor.. só isso).

 Voltando no início, com muito esforço conseguir "comprar" minhas horas livres por um tempo pra me deditar aos estudos. Eu sei que pra eu poder viver vou ter que vende-las pra algum cara poder enriquecer. Será que a solução é eu enriquecer tambem e fazer o mesmo que esse cara?.. pense nisso e comentem ai.

*Tem uma comunidade no orkut que aborda bem o que eu quis dizer http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=252893

*PS: Eu sou meio analfabeto, desculpe os erros de portugues se tiver.. =)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Trecho do livro A Cidade e as Serras

Eu estava lendo o livro, não estava gostando muito, mas quando chegou no capítulo 7 vi um trecho interessante, é uma dura critica a sociedade da cidade Européia do século XIX. Na minha opinião, também pode ser para a de hoje.

Pra quem não leu, é uma conversa entre os personagens Jośe Fernandes e Jacinto (chamado de meu principe).

"-Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão!
Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma Ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa Ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trêmulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou dum quartel... A sua tranqüilidade (bem tão alto que Deus com ele recompensa os Santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugida rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arrátel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata Rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!
E ante estas encanecidas e veneráveis invectivas, retumbadas pontualmente pôr todos os Moralistas bucólicos, desde Hesíodo, através dos séculos - o meu Príncipe vergou a nuca dócil, como se elas brotassem, inesperadas e frescas, duma Revelação superior, naqueles cimos de Montmartre:
-Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Insisti logo, com abundância, puxando os punhos, saboreando o meu fácil filosofar. E se ao menos essa ilusão da Cidade tornasse feliz a totalidade dos seres que a mantém... Mas não ! Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade os gozos especiais que ela cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimentos especiais que só nela existem! Deste terraço, junto a esta rica Basílica consagrada ao Coração que amou o Pobre e pôr ele sangrou, bem avistamos nós o lôbrego casario onde a plebe se curva sob esse antigo opróbrio de que nem Religiões, nem Filosofias, nem Morais, nem a sua própria força brutal a poderão jamais libertar! Aí jaz, espalhada pela Cidade, como esterco vil que fecunda a cidade. Os séculos rolam; e sempre imutáveis farrapos lhe cobrem o corpo, e sempre debaixo deles, através do longo dia, os homens labutarão e as mulheres chorarão. E com este labor e este pranto dos pobres, meu Príncipe, se edifica a abundância da Cidade! Ei-la agora coberta de moradas em que eles se não abrigam; armazenada de estofos, com que eles se não agasalham; abarrotada de alimentos, com que eles se não saciam! Para eles só a neve, quando a neve cai, e entorpece e sepulta as criancinhas aninhadas pelos bancos das praças ou sob os arcos das pontes de Paris... A neve cai, muda e branca na treva; as criancinhas gelam nos seus trapos; e a polícia, em torno, ronda atenta para que não seja perturbado o tépido sono daqueles que amam a neve, para patinar nos lagos do Bosque de Bolonha com peliças de três mil francos. Mas quê, meu Jacinto! a tua Civilização reclama insaciavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o Capital der Trabalho, pôr cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável, é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade. Se nas suas tigelas fumegasse a justa ração de caldo - não poderia aparecer nas baixelas de prata a luxuosa porção de foie-gras e túbaras que são o orgulho da Civilização. Há andrajos em trapeiras - para que as belas Madamas de Oriol, resplandecentes de sedas e rendas, subam em doce ondulação, a escadaria da Ópera. Há mãos regeladas que se estendem e beiços sumidos que agradecem o dom magnânimo dum sou - para que os Efrains tenham dez milhões no Banco de França, se aqueçam à chama rica da lenha aromática, e surtam de colares de safiras as suas concubinas, netas dos duques de Atenas. E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos - para que os Jacintos, em Janeiro, debiquem, bocejando, sobre pratos de Saxe, morangos gelados em Champanhe e avivados dum fio de éter!
-E eu comi dos teus morangos, Jacinto! Miseráveis, tu e eu!
Ele murmurou, desolado:
-É horrível, comemos desses morangos... E talvez pôr uma ilusão!"


para leitura http://pt.wikisource.org/wiki/A_Cidade_e_as_Serras .



Aos que leram e chegaram nessa parte, comentem!! ...E aos que chegaram aqui sem ler esse texto enorme (acho que muita gente) comentem também.