terça-feira, 29 de junho de 2010

Anti-Trabalho

Uma das coisas que mais estou gostando agora é eu ser dono do meu tempo. Mas dizendo isso muitos vão pensar que fico de "bobeira", "relaxando" ... dizendo francamente , um vagabundo. Isso porque o ócio não é bem visto hoje, agente tem sempre que esta produzindo, sedendo horas e horas das nossas vidas ao trabalho para trazer o "progresso".  Ok...ok.. eu concordo com isso, devemos sim trabalhar para trazer o desenvolvimento de uma nação, só que é isso que acontece hoje? Não..

Ja faz um tempo que é a marca A disputando com a marca B, e quando dizem para nós que o mundo ta progredindo, não é o que eu vejo, pois na verdade é uma empresa que está ganhando da outra.


A prova disso é só agente ver o que acontece hoje. Gente passando fome, a natureza sendo destruida, a pobreza ainda é significativa, muitos tem que pagar aluguel pra ter um lar, e mais uma porrada de coisas que muitos ja sabem . Isso, na minha opinião e de muita gente que conheço não é progresso.

Então eu só vou ter orgulho de trabalhar, quando eu ver que meu serviço ajuda os seres humanos, acredito quea força de trabalho deve servir para isso, e não para brincadeirinhas de empresas que nos usam como peça de tabuleiros (quanto maior a graduação melhor a peça, ou seja, agente estuda pra ser uma peça melhor.. só isso).

 Voltando no início, com muito esforço conseguir "comprar" minhas horas livres por um tempo pra me deditar aos estudos. Eu sei que pra eu poder viver vou ter que vende-las pra algum cara poder enriquecer. Será que a solução é eu enriquecer tambem e fazer o mesmo que esse cara?.. pense nisso e comentem ai.

*Tem uma comunidade no orkut que aborda bem o que eu quis dizer http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=252893

*PS: Eu sou meio analfabeto, desculpe os erros de portugues se tiver.. =)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Trecho do livro A Cidade e as Serras

Eu estava lendo o livro, não estava gostando muito, mas quando chegou no capítulo 7 vi um trecho interessante, é uma dura critica a sociedade da cidade Européia do século XIX. Na minha opinião, também pode ser para a de hoje.

Pra quem não leu, é uma conversa entre os personagens Jośe Fernandes e Jacinto (chamado de meu principe).

"-Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão!
Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma Ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa Ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trêmulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou dum quartel... A sua tranqüilidade (bem tão alto que Deus com ele recompensa os Santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugida rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arrátel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata Rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!
E ante estas encanecidas e veneráveis invectivas, retumbadas pontualmente pôr todos os Moralistas bucólicos, desde Hesíodo, através dos séculos - o meu Príncipe vergou a nuca dócil, como se elas brotassem, inesperadas e frescas, duma Revelação superior, naqueles cimos de Montmartre:
-Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Insisti logo, com abundância, puxando os punhos, saboreando o meu fácil filosofar. E se ao menos essa ilusão da Cidade tornasse feliz a totalidade dos seres que a mantém... Mas não ! Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade os gozos especiais que ela cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimentos especiais que só nela existem! Deste terraço, junto a esta rica Basílica consagrada ao Coração que amou o Pobre e pôr ele sangrou, bem avistamos nós o lôbrego casario onde a plebe se curva sob esse antigo opróbrio de que nem Religiões, nem Filosofias, nem Morais, nem a sua própria força brutal a poderão jamais libertar! Aí jaz, espalhada pela Cidade, como esterco vil que fecunda a cidade. Os séculos rolam; e sempre imutáveis farrapos lhe cobrem o corpo, e sempre debaixo deles, através do longo dia, os homens labutarão e as mulheres chorarão. E com este labor e este pranto dos pobres, meu Príncipe, se edifica a abundância da Cidade! Ei-la agora coberta de moradas em que eles se não abrigam; armazenada de estofos, com que eles se não agasalham; abarrotada de alimentos, com que eles se não saciam! Para eles só a neve, quando a neve cai, e entorpece e sepulta as criancinhas aninhadas pelos bancos das praças ou sob os arcos das pontes de Paris... A neve cai, muda e branca na treva; as criancinhas gelam nos seus trapos; e a polícia, em torno, ronda atenta para que não seja perturbado o tépido sono daqueles que amam a neve, para patinar nos lagos do Bosque de Bolonha com peliças de três mil francos. Mas quê, meu Jacinto! a tua Civilização reclama insaciavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o Capital der Trabalho, pôr cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável, é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade. Se nas suas tigelas fumegasse a justa ração de caldo - não poderia aparecer nas baixelas de prata a luxuosa porção de foie-gras e túbaras que são o orgulho da Civilização. Há andrajos em trapeiras - para que as belas Madamas de Oriol, resplandecentes de sedas e rendas, subam em doce ondulação, a escadaria da Ópera. Há mãos regeladas que se estendem e beiços sumidos que agradecem o dom magnânimo dum sou - para que os Efrains tenham dez milhões no Banco de França, se aqueçam à chama rica da lenha aromática, e surtam de colares de safiras as suas concubinas, netas dos duques de Atenas. E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos - para que os Jacintos, em Janeiro, debiquem, bocejando, sobre pratos de Saxe, morangos gelados em Champanhe e avivados dum fio de éter!
-E eu comi dos teus morangos, Jacinto! Miseráveis, tu e eu!
Ele murmurou, desolado:
-É horrível, comemos desses morangos... E talvez pôr uma ilusão!"


para leitura http://pt.wikisource.org/wiki/A_Cidade_e_as_Serras .



Aos que leram e chegaram nessa parte, comentem!! ...E aos que chegaram aqui sem ler esse texto enorme (acho que muita gente) comentem também.